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Os alimentos orgânicos são caros?

O senso comum costuma reforçar o alto preço dos produtos orgânicos, mas será que eles são caros, mesmo?

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 Banca Prolami, n° 86 e 88 – Feira Ecológica do Bom Fim, quadra 2. Foto: Gabriel Pereyron

Por ser uma prerrogativa dos alimentos orgânicos consumi-los na época certa de cada alimento e na sua localidade, as boas safras fazem com que o preço do orgânico não seja tão mais alto se comparado ao dos alimentos convencionais. Pelo contrário: muitas vezes eles se encontram mais baratos. Basta não se satisfazer com o que as redes de supermercado oferecem e pesquisar.

Ainda assim, não podemos ignorar que alimentos orgânicos, no Brasil, podem custar até 40% mais do que os produtos convencionais. São vários os fatores que ocasionam esse percentual:

– O cultivo orgânico envolve um trabalho de anos para deixar o solo vivo, fértil. Enquanto a agricultura convencional planta até que o solo se torne estéril, a orgânica envolve um preparo do solo que pode durar até cinco anos.

– Se a escala de produção é baixa (mais de 80% dos orgânicos são produzidos pela agricultura familiar), maiores são os custos com frete, insumos e custos fixos.

– No sistema orgânico, é preciso buscar soluções que não envolvam substâncias sintéticas (antibióticos, fertilizantes químicos) comumente encontradas.

– E um ponto muito importante, a certificação. Enquanto para o uso de agrotóxicos não se mantém uma fiscalização sistemática, o produtor de orgânicos requer comprovação constante de um cultivo ecológico. E é ele que arca com tal investimento, que pode custar pelo menos R$3 mil por ano.

Todo esse esforço e dedicação acaba por elevar o preço final do produto.

Vale ressaltar que os alimentos convencionais nem sempre tem um preço acessível: as hortaliças disponíveis fora de época, por exemplo, costumam ser mais caras, por serem importadas ou precisarem de uma série de aditivos para crescerem. Aspectos subjetivos, como a falta de sabor, os resíduos de agrotóxicos e os malefícios que o cultivo tradicional causam ao meio-ambiente também ajudam a conta a se tornar pesada não só no bolso, mas na consciência.

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 Foto: reprodução

Por isso, elencamos aqui não apenas 5 razões para consumirmos orgânicos, mas 5 razões que fazem com que o valor agregado ao produto valha cada centavo do preço que pagamos, seja ele mais caro ou mais barato que o modelo padrão (com agrotóxicos).

1. O crescimento do fornecimento cresce conforme à demanda.
Estudos vão contra o argumento de que a necessidade mundial de alimentos só pode ser suprida com a produção convencional (e com transgênicos, alguns completam). A produção da agricultura familiar e dos orgânicos, pode, sim, aumentar a ponto dos produtos tornarem-se mais populares e mais baratos. A questão é que eles crescem paralelamente à demanda. Ou seja, investir nesse mercado é fortalecê-lo e contribuir para seu crescimento, sua popularização, sua democratização.

2. Comprar orgânicos é investir em um modelo agrícola humano.
No momento em que compramos produtos orgânicos, estamos ajudando a fortalecer uma rede de produtores com princípios humanos, já que a agricultura familiar é a líder do setor. Nas feiras, por exemplo, muitas vezes o produto sai das mãos de quem preparou a terra, colocou as sementes e colheu o alimento diretamente para as nossas mãos, o que, em uma sociedade tão desumanidade e fria nas suas relações interpessoais e alimentícias, pode ser considerado um luxo. Assim, quando compramos orgânicos, seja na feira ou através de terceirizados, sabemos que não estamos financiando uma multinacional, ou investindo mais nos royalties de uma grande produtora de sementes do que no agricultor.

3. Quem escolhe orgânicos escolhe o futuro.
A agricultura baseada nos insumos industriais e nas grandes corporações tem como objetivo o lucro imediato, e não a preservação do futuro. A produtividade é elevada, mas a abundância no presente tem um custo alto, que é a destruição das bases naturais da produção, a destruição do solo e o aumento da poluição. Investir no modelo ecológico é fazê-lo crescer e, assim, dar um primeiro passo na mudança dessa realidade.

4. Investir em orgânicos é preocupar-se com o bem-estar animal.
A produção orgânica não polui, garante que os rios permaneçam limpos e, assim, ajuda a preservar a biodiversidade e a não alterar a fauna e a flora locais. Além disso, se a indústria da carne é marcada por crueldade, na produção orgânica isso não ocorre. Quem opta por comer carne orgânica, por exemplo, sabe que o animal não foi exposto a uma vida de sofrimento como no setor convencional.

5. No cultivo orgânico, preserva-se a saúde dos agricultores.
Nas lavouras convencionais, a exposição constante aos agrotóxicos e pesticidas faz com que os fazendeiros muitas vezes desenvolvam problemas de saúde. No modelo orgânico, o cultivo é seguro, responsável e preserva o meio-ambiente como um todo.